A emergência de um Partido Negro


Hoje eu quero falar com vocês sobre a criação de um partido negro. Sim temos que ter coragem de fazer isso novamente!
Mas porquê?
Somos a maioria da população. De acordo com o IBGE somos 55,8% da população de 211 milhões de habitantes totalizando 118 milhões de negras e negros a maior população negra da América.
O genocídio da nossa gente é diário, o racismo é diário, a pobreza é diária e temos que dar uma resposta a isso para além de ficarmos com raiva dessa realidade.
Na representação política: apenas 24,4% dos deputados federais, 28,9% dos deputados estaduais e 42,1% dos vereadores eleitos são pretos ou pardos. Quantos prefeitos, governadores e senadores são negros? E presidente quantos tivemos? Na minha conta apenas um que foi Nilo Peçanha (1909-1910) há 110 anos!
Enquanto 9,7% das candidaturas a deputado federal de pessoas brancas dispuseram de receitas iguais ou superiores a 1 milhão de reais, entre as candidaturas de pessoas pretas ou pardas apenas 2,7% contaram com pelo menos esse valor. Dentre as candidaturas que dispuseram de receita igual ou superior a 1 milhão de reais, apenas 16,2% eram de candidatos pretos ou pardos.
Em 2018, as mulheres pretas ou pardas constituíram 2,5% dos deputados federais e 4,8% dos deputados estaduais eleitos e, em 2016, 5,0% dos vereadores. Consideradas apenas as eleitas mulheres, eram 16,9%, 31,1% e 36,8%, respectivamente.
Estamos mais representados em partidos de esquerda devido a esses partidos estarem mais próximos das nossas demandas. Mas na real não importa se o partido é de direita, centro ou esquerda, nós somos minoria em todos! Esses partidos foram formados por homens brancos para atender os seus interesses e suas visões de mundo importadas da Europa.Eles estão em primeiro lugar desde 1500! Se liga!
Na direção desses partidos quantos presidentes negros tem?
Eu digo que fomos enganados! Mas como assim? Na crença de que somos todos iguais e estamos no mesmo barco. É a crença da “democracia racial” uma grande mentira que muitos de nós ainda acredita. Nossa realidade não se resume às desigualdades sociais.

Pesquisas feitas há décadas mostra a péssima situação social em que nos encontramos, houve melhoras sim, pequenas e suadas, mas estamos perdendo muito com a ascensão da extrema direita majoritariamente branca no poder.






Isso é novidade? Não. Na década de 1930 tivemos aqui em São Paulo a Frente Negra Brasileira que começou no centro da cidade como movimento social negro em 16 de setembro de 1931 e em 1936 se tornou partido político, o primeiro partido negro da nossa história. Durante a primeira metade do século 20, a FNB foi a mais destacada entidade negra no Brasil, Com um programa preestabelecido de luta, visava conquistar posições para o negro em todos os setores da sociedade brasileira. Tinha filiais em vários estados e congregava milhares de pessoas.
Minha dissertação de mestrado pesquisou sobre a política de educação dessa instituição:

Mas em 1937 Getúlio Vargas deu um golpe dentro do golpe de Estado e colocou na ilegalidade todos os partidos.
Agora no século 21 em Fundação em 16 de setembro de 2017 foi fundada a Nova Frente Negra Brasileira na frente a Casa de Portugal onde era a sede da Frente Negra no bairro da Liberdade.

Sua missão é representar politicamente trabalhadores negros e negras dos centros urbanos e rurais e declara-se aberta à participação de todas as camadas historicamente exploradas e menos favorecidas do país.
O objetivo é acabar com a relação de exploração do homem pelo homem com ênfase na luta contra o racismo.
É um coletivo formado por negras e negros de vários movimentos sociais, dispostos a mudar a realidade socioeconômica e política da população negra no Brasil.

A Frente Negra Brasileira foi o primeiro e único partido político que priorizou as reais desigualdades sociais da população negra em suas ações, foi fundada em 16 de setembro de 1931. E agora, 86 anos depois, inspiradas e inspirados na relevante e potente ação daquele coletivo de negros e negras, lançamos a Nova Frente Negra Brasileira, para continuar constituindo, construindo e contando novas histórias, evidenciando o protagonismo de resistência do povo negro, para a construção de um projeto de país melhor para todas e todos.
Para quem quiser saber mais acesse:
Quem sabe faz a hora!

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