Calendários africanos para descolonizar o tempo

Chegamos ao ano de 2021!

Isso é uma vitória pois muitas pessoas da nossa comunidade e indígenas não puderam chegar até aqui devido à diversas causas entre elas a nova COVID-19. Minha solidariedade às famílias e amizades enlutadas por mais de 200 mil pessoas falecidas ficando em 3 lugar no mundo em casos...

Eu quero refletir sobre o “nosso” calendário.

Calendário é um sistema para contagem e agrupamento de dias que visa a atender principalmente às necessidades civis e religiosas de uma cultura. A palavra deriva do latim calendarium, "livro de registro", que, por sua vez, deriva de calendae, que indicava o primeiro dia de um mês romano. As unidades principais de agrupamento dos dias são o mês e o ano. Nota-se aqui mais um elemento do eurocentrismo, ou seja a Europa como centro do mundo. Já verificou que tudo o que é valorizado tem origem grega ou latina (império romano)?

Existem uma diversidade de calendários 86 no total, mas o calendário dominante em grande parte do mundo é o calendário gregoriano, um calendário de origem europeia, utilizado oficialmente pela maioria dos países dominado pelos brancos. Foi promulgado pelo Papa da Igreja Católica Gregório 12 (1502–1585) a 24 de Fevereiro do ano 1582 pela bula Inter gravíssimas em substituição do calendário juliano implantado pelo líder romano Júlio César (100–44 a.C.) em 46 a.C.

Como convenção e por praticidade, o calendário gregoriano é adotado para demarcar o ano civil no mundo inteiro, facilitando o relacionamento entre as nações. Essa unificação decorre do fato de a Europa ter, historicamente, exportado seus padrões para o resto do mundo através da invasão de territórios e continentes a partir do século 15.

Todos os nomes utilizados são de origem romana para os dias, meses e anos.

O calendário gregoriano deriva do calendário juliano. O calendário juliano foi organizado pelo sábio Sosígenes de Alexandria, no ano 46 a.C., e que deve o seu nome a uma homenagem a Júlio Cesar, na qualidade de pontífice máximo da República Romana, a quem competia a tarefa de decidir quando se introduziam os meses intercalares no calendário romano tradicional, um calendário de tipo lunissolar. A reforma do calendário juliano entrou em vigor no dia 1 de janeiro do ano 45 a.C., tornando o calendário romano num calendário solar, alinhado pelas estações do ano, à semelhança do calendário kemético (egípcio) já então em vigor.

O calendário kemético (egípcio) é considerado o primeiro calendário da humanidade, está ligado com a sua ocupação nas margens do rio Hapy (Nilo para os gregos). A cerca de 11 mil anos a.C., algumas plantas foram domesticadas na Ásia e a agricultura de pequena escala teve início no Kemet em torno de 7000 a.C. Imagina-se que a razão dos africanos criarem o calendário deva-se à necessidade de se preparar para a época de plantio nas imediações do rio Nilo, ou Aur ou Ar, que significa negro, numa alusão à terra negra trazida pelo rio no regime das cheias. Esta terra é bastante fértil e que serve como adubo natural ao solo.




Primeiro calendário da história da humanidade, surgiu por volta de 3000 a.C. O ano kemético tem 365 dias, divididos em 12 meses de 30 dias, além de cinco dias extras dedicados aos deuses. Os africanos foram o primeiro povo a utilizar um calendário solar, embora os 12 meses de 30 dias sejam de origem lunar. O ano africano tem 6 horas a menos que o ano solar, o que significa um atraso de um dia a cada quatro anos (4 anos x 6 horas = 24 horas = 1 dia). O ano começa no momento em que Sírius ou Sothis, a estrela mais brilhante do céu, aparece no mesmo lugar em que o Sol nasce. Este fenômeno coincide com a cheia do rio Hapy (Nilo).

Os antigos do norte da África, dividiam o ano em três estações (Trw) de 120 dias cada:

1. Inundação ou dilúvio (medu neter: Ꜣḫt , às vezes anglicizado como Akhet): aproximadamente de setembro a janeiro.
2. Emergência ou inverno (Prt , às vezes anglicizado como Peret): aproximadamente de janeiro a maio.
3. Água baixa ou colheita ou verão (Šmw, às vezes anglicizado como Shemu): aproximadamente de maio a setembro.
Os 12 meses keméticos eram: Thoth, Phaophi, Athyr, Choiak, Tybi, Mechir, Phamenoth, Pharmouthi, Pachons, Payni, Epiphi e Mesore.




Existem outros calendários africanos como ibo, etíope, berbere, somali e borana.

O calendário Ibo é o sistema de calendário tradicional do povo ibo da atual Nigéria. Na tradição ibo que data do século 13, tem 13 meses lunares de 28 dias divididos em sete períodos de 4 dias, mais dias bissextos.

O calendário Etíope ou ge´ez é o calendário princípio usado na Etiópia e também serve como o ano litúrgico para os cristãos na Etiópia e Eritreia.

O calendário Berbere é o calendário agrícola tradicionalmente usado pelos berberes . Ele também é conhecido como o Fellahi. O calendário é utilizado para regular os trabalhos agrícolas sazonais. reconstruiu nomes medievais em língua berbere dos meses julianos usados ​​no norte da África pré-islâmica (era romana).

O calendário Somali é baseado nos sistemas de calendário solar e lunar. O calendário era usado por fazendeiros e pastores para determinar o clima e as estações, ajudava em suas necessidades. O calendário solar somali é conhecido como Amin-tiris ou Shin-tiris, enquanto o calendário lunar era conhecido como Dayax-tiris.

O calendário Borana é um calendário usado pelos Borana Oromo, um povo que vive no sul da Etiópia e no norte do Quênia. O calendário é baseado no calendário cuxita, desenvolvido por volta de 300 a.C., encontrado em Namoratunga, Quênia. No entanto, a reconsideração do sítio Namoratunga levou o astrônomo e arqueólogo Clive Ruggles a concluir que não há relação. O calendário Borana consiste em 29,5 dias e 12 meses para um total de 354 dias em um ano. O calendário não tem semanas, mas um nome para cada dia do mês. É um calendário lunar.

Pelo calendário mais antigo do mundo que é o Kemético estamos no ano de 6262.

Dia 11de setembro passado foi o primeiro dia do Ano Novo! O primeiro dia começa no mês de Thoth na estação da inundação (Akhet: Ꜣḫt), primeiro dia do calendário (Ḥryw Rnpt) e após a estação da Emergência (Prt).

Descolonize-se e controle a narrativa.



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