Após 150 anos, ‘Jack Daniel’s’ 

assume que a receita do uísque 

era, na verdade, de um 

escravizado

Jack Daniel's é um dos uísques mais vendido no mundo, estando entre as 

10 marcas de destilados que mais crescem atualmente. Usa os mais refinados 

ingredientes naturais na sua fabricação: milho, centeio, malte de cevada e água 

isenta de ferro. Diferencia-se pelo seu cuidadoso processo de elaboração, 

destilação e envelhecimento. Depois de 150 anos de existência a marca de 

uísque resolveu rever uma parte fundamental da sua história: se acreditava que 

Jack Daniel aprendeu a receita e o processo de destilação com o pastor Dan Call. 

Na verdade, quem ensinou as técnicas de purificação fundamentais para a 

elaboração da bebida foi Nearis Green, um trabalhador forçado do pastor branco.





Depois de 150 anos de existência, a marca de uísque Jack Daniel’s resolveu
rever uma parte fundamental da sua história e assumiu que a criação da receita da 
bebida foi feita por Nearis Green, um escravizado negro que trabalhava para o pastor
branco Dan Call, a quem sempre foi atribuída a fórmula de umas das marcas de bebida
alcoólica mais famosa do mundo.
Uma reportagem do jornal americano The New York Times revelou que a partir de agora
 quem visita a fábrica do destilado em Tennesse, nos Estados Unidos, ouve a história
 verdadeira. A versão mais antiga, contada até poucas semanas atrás, omitia a
participação do mestre-destilador Nearis Green (ca. 1820-1890). Se acreditava que
Jack Daniel aprendeu a receita e o processo de destilação com o pastor Dan Call, em
1866. Na verdade quem ensinou o processo de destilação, mas também as técnicas
de purificação fundamentais para a elaboração do uísque foi Green, escravizado do pastor.



Essa versão não é novidade, mas ela foi confirmada pela empresa somente agora.
A presença de escravos em destilarias era algo bem comum no século XVIII.
“Eles eram crucias para as destilarias”, disse Steve Bashore, que ajudou a reconstruir os
locais onde a bebida era destilada. “Nas escrituras, os escravos eram inclusive
descritos como destiladores”, completou.

O historiador Michael Twitty vai mais longe e diz que os trabalhadores forçados tinham
uma tradição ancestral vinda da África Ocidental de fazer bebidas: os africano-americanos tinham sua própria tradição de fazer bebidas alcoólicas. “Existe algo que precisa ser dito, na verdade 
os africanos e os europeus eram dois povos do Sudeste americano que traziam uma 
tradição ancestral de fazer bebidas alcoólicas”, diz Twitty.
Algumas pessoas não tem a coragem de me falar isto pessoalmente mas sei o que vem
a mente delas quando eu falo sobre Ciência, Tecnologia e Inovação Africana e
Afrodescendente, “por que este livro?”
A descrição acima pode talvez ser a pergunta que algumas pessoas fazem ao ler o título.
É necessário escrever e publicar um livro dedicado aos inventores negros e cientistas? Ao
escrever este trabalho, quero perpetuar a memória de inventores e cientistas, restaurar
alguma verdade e alguma justiça. Estarei satisfeito se este trabalho enfraquecer, os
preconceitos que ainda existem em nossas sociedades, onde, infelizmente, o racismo
ainda persiste.
Se você verificar a lista dos vencedores negros dos ganhadores do Prêmio Nobel, um
total de quinze, você pode ver que a maioria está na categoria "Prêmio Nobel da
Paz" (11) e, em seguida, para "Nobel literatura "(3) e há apenas uma pessoa, Sir William
Arthur Lewis, nascido em Santa Lúcia (Caribe) que conseguiu um prêmio em Economia.
Se pesquisar o Prêmio "Right Livelihood Award" conhecidos como o Prêmio Nobel
alternativo, na lista de vencedores podem ser encontrados eminentes personalidades
negras que se destacaram em áreas como a da Biodiversidade, Ecologia (Ken Saro-Wiwa), a resolução pacífica de conflitos ou Arquitetura (Hassan Fathy).
Em 2007, James Watson, Nobel de medicina americana, co-descobridor da dupla hélice
do DNA, disse ao jornal britânico The Sunday Times que "todas as pessoas que tiveram
de empregar negros sabem que [a igualdade racial] não é verdade." Este tipo de
declaração têm uma resposta oportuna neste livro que propõe destacar as contribuições
da negritude para o conhecimento ocidental e quebrar o mito de que há uma
inteligência superior branca. Na verdade, Christopher Chetsanga (1935) um zimbabueano descobriu duas enzimas de reparo do DNA (formamidopirimidina(fapi)-DNA glicosilase (FPG) .
Entre muitas outras invenções destaco Garret Morgan inventou o semáforo, Ralph 
Gardner se destacou na fabricação de plásticos duros, Granville Tailer Woods, "derrotou 
duas vezes em tribunal o famoso Thomas E. Edison que questionou seus direitos sobre
as invenções relacionadas com a eletricidade". Patricia E. Bath desenvolveu uma 
técnica à laser de operação da catarata. E como Marie Curie, a física negra Shirley A.
Jackson escolheu se especializar em física, uma disciplina em que muito poucas
mulheres têm acesso em muitos países. Valerie Thomas, analista de dados matemáticos
da NASA, tem desde 1980 patentes como o "transmissor de ilusão". Esta invenção
futurista ajudou a lançar as bases da tecnologia 3D utilizadas ​​no cinema e na televisão.
No entanto, nem todas as descobertas que aparecem no meu livro, tiveram
consequências benéficas para a humanidade. Lloyd Quarterman, físico nuclear, foi um 
dos seis negros, com Albert Einstein (que expressou seu remorso por não ter evitado 
a tragédia de Hiroshima e Nagasaki), contribuiu para o "Projeto Manhattan”
de desenvolvimento da bomba atômica.

Entre os cientistas e inventores, devemos mencionar os que viveram na era da
escravidão (Edward Albion, Lewis Howard Latimer) e aqueles que formaram um par
de cientistas no estilo de Curie (Dale Brown e Philip Emeagwali). Há aqueles que
alcançaram o reconhecimento na vida e aqueles que não o fizeram. Muitos deles sofreram
rejeição pela cor da sua pele: Percy Lavon Julian estudou em Harvard, onde se formou e trabalhou, "Mas eles nunca ofereceram uma posição de ensino para não desagradar os estudantes brancos" e alguns como Elijah McCoy tem o seu nome fazendo parte da linguagem comum
pelo menos nos Estados Unidos.
Muitos dos homens e mulheres de destaque tiveram que sofrer escravidão ou
pobreza extrema, rejeição, preconceito e atitudes racistas e mesmo assim conseguiram
contribuir com seus conhecimentos.
De origem africana destacamos o senegalês Cheikh Anta Diop, que apresentou uma tese
de doutorado na Universidade de Paris no qual argumentava que o antigo Egito tinha
sido uma cultura negra, astrofísico Cheik Modibo Diarra (Mali), que também foi
nomeado em 2012 primeiro ministro de seu país, Philip Emeagwali (Nigéria),
Edmond Albius, Christopher Chetsanga (Zimbábue) e três etíopes: Aklilu Lema,
Tilahun Yilma D. e Kita Eligu.
De todos eles eu quero enfatizar Aklilu Lema (1934-1997). A descoberta que fez tem
muito de acaso. Ele era um professor na Universidade de Addis Abeba na capital
Etiópia e sua contribuição para a ciência foi a descoberta do Endod, planta indígena,
com o qual ele alcançou uma forma eficaz para curar a esquistossomose. Esta doença
crônica afeta milhões de pessoas em diferentes lugares da Ásia, África, América do Sul e
no Caribe. A esquistossomose se abriga em moluscos.
Dr. Lema, enviado em 1964 para o norte da Etiópia para levar a cabo uma investigação
de uma erupção cutânea causada por esta doença, algumas lavadeiras observadas
lavaram os seus vestidos em cursos de água doce com sabão feito de um
arbusto (Phytolacca dodecandra, é um arbusto nativo da África Tropical, África do Sul
e Madagáscar. A planta, conhecida pelo nome comum de endod é cultivado há vários
séculos no centro e leste da África, particularmente na Etiópia, onde é utilizada como
fonte de sabão e como veneno para atordoar peixes). Lema notou que na superfície da
água flutuavam vários caramujos mortos. E, no entanto rio acima, ele observou muitos
caracóis vivos. Assim, a planta tornou-se a solução para a doença. Endod tem outros usos, mas a indústria farmacêutica não parece com pressa para preparar produtos baseados nesta
planta que seria acessível nos países mais pobres.
A descoberta e as dificuldades para aplicação, assim como Ebola de hoje, nos dá razão
para acreditar que, infelizmente, quase nada mudou desde então. O que o doutor etíope
Legesse Wolde-Yohannes, que trabalhou com o Lema disse "as doenças dos pobres não
tem interesse para os investidores ocidentais" vale para a atualidade.
Um dos objetivos do livro é incentivar o leitor a pesquisar e descobrir mais
inventores e cientistas negros que nem sempre foram reconhecidos e que apesar
das condições adversas, dedicaram sua vida à investigação e estudo, invenção e
descoberta, e que têm feito a nossa vida melhor, enquanto desarticula preconceitos e
mitos sobre a população negra.
Foto de Capa: Reprodução/Facebook
Fontes:
http://www.nytimes.com/2016/06/26/dining/jack-daniels-whiskey-nearis-green-slave.html?_r=0
http://www.revistaforum.com.br/2016/07/11/apos-150-anos-jack-daniels-assume-que-a-receita-do-uisque-era-na-verdade-de-um-escravo/
http://www.hypeness.com.br/2016/07/com-150-anos-de-atraso-jack-daniels-admite-que-foi-um-escravo-quem-desenvolveu-sua-receita/

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