MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Você já pensou na contribuição de cientistas negros para nosso avanço técnico e científico?
por FRANCINE ROCHA do jornal biohoje da UFPR.
Você sabia que cientistas e inventores negros são responsáveis por inumeráveis criações, teorizações e inovações? Cabe destacar o produto da inteligência e inovação do trabalho negro toda vez em que você: abre uma
geladeira; cruza um semáforo; ouve falar de banco de sangue e de embalagem para plasma sanguíneo; dedilha uma guitarra; adoça seu cafezinho; usa uma lanterna; rega seu gramado; espreme um limão; utiliza o estetoscópio; uma máquina de escrever; um bonde elétrico; ouve falar de
quimioterapia para o tratamento do câncer; do uso da fibra ótica, da cirurgia a laser para operar catarata, dos efeitos do colesterol e de açúcar na saúde humana. Imagine ainda como foi relevante o primeiro protótipo para cirurgia
cardíaca para a formação dos médicos? Ou os desafios da primeira operação para separação de irmãos siameses?
Pense em como seria o mundo sem pílulas anticoncepcionais e cortisona, ou como teria sido mais divertida a sua infância se já existisse aquele brinquedo infantil que espirra água.
O desconhecimento de que inovações científicas são cotidianamente produzidas por negros – os quais seriam socialmente reconhecidos como bons apenas nas áreas da arte, cultura, esporte e fé - decorre de um inegável tratamento diferenciado construído histórica e socialmente para favorecer a hierarquização da humanidade, com os brancos ocupando o topo. Tal criação européia visava subalternar, segundo o critério raça, os negros e indígenas para poder explorá-los econômica e simbolicamente.
Em nosso país, não é mais possível negar que a democracia racial é um mito. Dia após dia a verdade grita e as estatísticas todas não conseguem mais obscurecer a pertinência destas questões. Como se explicaria que as
condições de vida de negros e pardos muito pouco se alteraram positivamente mesmo nos momentos históricos mais favoráveis como os denominados de “milagre econômico”? Por que os mesmos não desfrutam de forma proporcional ao contingente populacional de espaços sociais de representação e poder? Por que são essas as populações mais afetadas pelo homicídio de jovens e mortalidade materna e infantil evitável? Por que os negros pobres brasileiros vivem pior que os brancos pobres?
O Diretor do Setor de Ciências Biológicas, professor Luiz Cláudio Fernandes, é um dos pouquíssimos negros nas esferas de poder da UFPR. Cientista do CNPq, pesquisador reconhecido em sua área de atuação – Fisiologia Endócrina - reconhece a persistência dessa “ignorância construída lá no Brasil Colônia, que, por sua antiguidade, acaba definindo como ’natural’ uma hierarquia na distribuição dos espaços sociais de representação, cabendo especialmente aos negros os de menor valor social”.Segundo o docente, não foi fácil transpor as barreiras
existentes, especialmente quando se vai conseguindo galgar níveis superiores em termos de poder. “Já tive que enfrentar situações de discriminação, por isso estou sempre me esforçando para me superar, para ser melhor. Vejo que a educação e a conscientização do valor do negro, inclusive para a ciência, são uma saída. É preciso descolonizar pensamentos e relações. Entender que a ciência é um esforço coletivo em que a diversidade de
olhares contribui mais do que a homogeneidade, que a mesmice. E que já tarda reconhecer com sinceridade a contribuição dos negros para o avanço científico.”

A despeito dos estudos genéticos já há muito terem desconstruído a categoria “raça” como diferenciadora entre humanos ao reconhecerem que os irrisórios 0,1% de diferenças existentes decorrem dos processos adaptativos do homem a diferentes ambientes e climas, há muito
ainda a ser feito no sentido de superar os efeitos dessa construção ideológica.

*A bioquímica Marie Maynard Daly foi pioneira nos estudos que relacionam a alta concentração do colesterol com entupimento das artérias.
*O médico Ben Carson entrou para a história da medicina em 1987 ao separar gêmeos siameses unidos pela cabeça.
*A médica oftalmologista Patricia Bath desenvolveu a sonda laser para cirurgia de catarata.
*Walter Lincoln Hawkins desenvolveu o material plástico que reveste os fios de telefone, o que tornou a implantação de redes ópticas mais baratas e seguras.
*O professor Luiz Claudio Fernandes, Diretor do Setor de Ciências Biológicas da UFPR. Foto - Mariane Mendonça.
Leia mais sobre em:
- Cientistas e inventores negros - Ava Henry e Michael Williams. Williams BIS Publications
- Negros e negras inventores, cientistas e pioneiros. Carlos Eduardo Dias Machado. EdUEL
- The institute of Black invention and technology – http://www.tibit.biz/
- 500 anos de solidão: ensaios sobre as desigualdades raciais no Brasil - Marcelo Paixão. Ed. Appris
- Não é magia, é tecnologia. Carlos Machado -


Fonte:http://www.bio.ufpr.br/portal/wp-content/uploads/2013/04/BioHoje_18.pdf

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