Exceto por supremacistas raciais radicais, o significado de ser branco é ter a opção de cuidar ou ignorar nossa condição de branco.
R.W. Terry
A equação de ser branco e ser humano garantem uma posição de poder. As pessoas brancas têm poder e acham que pensam, sentem e agem como e para todas as pessoas.
Richard Dyer, “Branco”.
Boa tarde Sr. Mário Magalhães ombudsman da Folha de São Paulo
Sou um homem negro pós-graduando, leitor da Folha de São Paulo desde 1989 e é por meio desta mídia que me mantenho atualizado sobre o noticiário do Brasil e do mundo pela ótica branca.
Compreendo que a empresa foi fundada por pessoas de origem européia e que este meio de comunicação reflete o modo ocidental de viver/o pensamento branco de uma parcela rica e influente da sociedade brasileira. Assim como sei que o leitor da Folha reiteradamente está no topo da pirâmide social, de acordo com os dados da pesquisa Perfil do Leitor 2007 da Folha, realizado pelo Datafolha de abril a junho em 45 cidades brasileiras. A maioria é branca, católica, casada, tem filhos e um bicho de estimação.
Eu não me enquadro na maioria leitora do jornal, mas sei que apesar de estar inserido na minoria de assinantes da Folha que é negra, amarela e indígena e que nem aparece nas estatísticas do perfil de leitores, eu existo, sou cidadão, sou consumidor e agora vou me manifestar.
Falta coerência mercadológica neste jornal. O fato mais raro nesta Folha é se ver representado de uma forma positiva nas fotos e desenhos da editoria de arte.
Hoje por exemplo, segunda-feira, 19 de novembro de 2007, na manchete do fim da página está inserida a foto de Filipe Redondo/Folha Imagem de 2 banhistas na praia de Camburi, no litoral norte paulista, no caderno Cotidiano C1 e C4, imagens de homem e mulheres brancos, que retroalimentam o pacto não-verbalizado do privilégio branco no campo do imaginário.
Esse padrão corporal hegemônico está mais voltado para os homens e esta mesma mídia apresenta para as mulheres o corpo magro, de silhueta alongada, nariz e lábios fino como sinônimo de beleza, mas tanto para homens quanto para mulheres o corpo branco é tido como signo de beleza, higiene e saúde há mais de um século.
Se o homem e a mulher branca, independente de sua classe social, não refletirem e agirem contra os diversos privilégios que possuem na sociedade brasileira não estarão contribuindo para construção de uma sociedade com menos desigualdade, pensando as desigualdades não apenas no campo econômico.
Às vezes me pergunto: porque continuo assinando um jornal como este aonde eu não existo?
Grato pela atenção e aguardo um ajuste de conduta.
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