A construção da raça branca e a suposta incapacidade intelectual negra para a ciência, tecnologia e inovação.



MACHADO, Carlos Eduardo Dias. A CONSTRUÇÃO DA RAÇA BRANCA E A SUPOSTA INCAPACIDADE INTELECTUAL NEGRA PARA A CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), [S.l.], v. 10, p. 12-29, jan. 2018. ISSN 2177-2770. Disponível em: <http://www.abpnrevista.org.br/revista/index.php/revistaabpn1/article/view/527>. Acesso em: 09 mar. 2019.



RESUMO – O presente ensaio trata da construção ideológica das raças e sua hierarquização pelos brancos europeus e a suposta incapacidade intelectual dos negros africanos e da diáspora. Buscamos analisar a perspectiva eurocêntrica universalista e as realizações africanas no campo da ciência, tecnologia e inovação que ficaram ocultas devido a construção do sistema de privilégio branco numa ordem mundial capitalista que tem como pilares a escravidão, colonialismo, imperialismo e racismo na construção das desigualdades.

PALAVRAS CHAVE: Raça, branquitude, negro, pensamento europeu, ciência, tecnologia.

INTRODUÇÃO

Branco é uma classificação racial, usado para pessoas de ascendência europeia. O uso contemporâneo do termo "povo branco" ou de "raça branca" como um grande grupo de populações (principalmente europeia), contrastando com o negro, índio (às vezes chamado de vermelho), amarelo, de cor ou não-branco, originou-se no século 17.

É hoje particularmente usado como um classificador racial em sociedades multiétnicas, como no Norte e Sul da África, Oceania, Oriente Médio, Estados Unidos, Reino Unido e Brasil[1]. Várias construções sociais da brancura têm sido significativas para a identidade nacional, política pública, religião, estatísticas populacionais, privilégio branco, segregação racial, eugenia, craniometria, frenologia e marginalização racial e ação afirmativa ao longo da história de meio milênio de dominação branca global.

O termo "raça branca" ou "povo branco" construído por europeus, entrou nas principais línguas europeias no final do século 17, no contexto da escravidão racializada e do status desigual das colônias europeias[2]. A descrição das populações como "brancas" em relação à sua cor da pele antecede esta noção e é encontrada na etnografia greco-romana e outras fontes antigas.

De acordo com a antropóloga Nina Jablonski:

No Egito antigo como um todo, as pessoas não eram designadas por termos de cor (...) Inscrições egípcias e literatura raramente mencionam a pele escura dos cuxitas da Alta Núbia. Sabemos que os egípcios não eram alheios à cor da pele, no entanto, porque os artistas prestaram atenção a ele em obras de arte, na medida em que os pigmentos permitidos no momento[3].

James Dee afirma que "os gregos não se descrevem como" pessoas brancas "- ou qualquer outra coisa, porque eles não tinham uma palavra regular em seu vocabulário de cor para si mesmos” [4]. A cor da pele das pessoas não trazia significado útil; O que importava era onde viviam[5].

Ocorrem atribuições de conotações positivas e negativas para brancos e negros no período clássico em várias línguas indo-europeias, mas essas diferenças nem sempre foram aplicadas à cor da pele. Conversão religiosa foi às vezes descrita figurativamente como uma mudança na cor da pele[6]. Da mesma forma, o Rigveda (antiga coleção indiana de hinos védicos em sânscrito e um dos quatro textos sagrados canônicos do hinduísmo), conhecidos como os Vedas usa o termo krsna tvac, pele negra, como metáfora da falta de religião[7].

A mais antiga imagem que descreve a coloração da pele humana é o texto funerário do Antigo Egito (Novo Reino) conhecido como o Livro dos Portões[8] distingue "quatro grupos" em uma procissão. São os egípcios, os cananeus ou asiáticos, os núbios e os líbios de pele clara. Os egípcios são descritos como castanho avermelhado claro, os núbios (Sudão atual) como pele preta, os semitas (Síria atual) e Canaã (Líbano moderno, Israel e Jordânia) como pele clara e os berberes da Antiga Líbia como igualmente brancos.

Heródoto descreveu os citas (antigo povo iraniano de pastores equestres) como tendo profundos olhos azuis e cabelos vermelhos brilhantes[9] e os egípcios - bem como os colchianos - como pele escura e cabelos cacheados[10]. Ele também dá a possivelmente primeira referência comum das populações que vivem ao sul do Egito, também conhecido como núbios, que foi aithíopes[11] (pele queimada). Mais tarde Xenofonte descreveu os etíopes como negros e as tropas persas como brancas em comparação com a pele bronzeada das tropas gregas[12]. Estes adjetivos de cores são tipicamente encontrados em contraste com o padrão definido pelo próprio grupo, e não como uma auto-descrição.
O termo "raça branca" ou "povo branco" entrou nas principais línguas europeias no final do século 17 no Oxford English Dictionary[13], originando-se da construção da racialização da escravidão na época, no contexto do tráfico transatlântico de seres humanos e da escravização de povos nativos do continente americano por portugueses e espanhóis católicos[14] que iniciou no século 15. Posteriormente foi atribuído a estirpes de sangue, ancestralidade e traços físicos e acabou sendo um tema de investigação científica, que culminou no racismo científico, que teve grande aceitação e que no século 20 foi repudiado por parte da comunidade científica. Segundo a historiadora Irene Silverblatt, "o pensamento racional (...) transformou as categorias sociais em verdades raciais[15]". “Bruce David Baum, citando o trabalho de Ruth Frankenberg, afirma, “a história da moderna dominação racista tem sido ligada à história de como os povos europeus definiram-se (e às vezes alguns outros povos) como membros de uma” raça branca superior’.” Alastair Bonnett argumenta que a "identidade branca", como é concebida atualmente, é um projeto estadunidense, refletindo as interpretações americanas de raça e história[16].

Segundo Gregory Jay, professor de Inglês na Universidade de Wisconsin-Milwaukee, antes da era da exploração, as diferenças de grupos eram largamente baseadas na linguagem, religião e geografia. O europeu sempre reagiu um pouco histericamente às diferenças de cor da pele e estrutura facial entre si e as populações encontradas na África, na Ásia e nas Américas (ver, por exemplo, a dramatização de Shakespeare do conflito racial em Othelo e A Tempestade). Começando no ano de 1500, os europeus começaram a desenvolver o que se tornou conhecido como "racismo científico", a tentativa de construir uma definição biológica e não cultural de raça. A branquitude, então, surgiu como o que hoje chamamos uma categoria "pan-étnica", como uma forma de unir uma variedade de populações étnicas europeias em uma única "raça.” [17]

Nos séculos 16 e 17, "os povos da Ásia Oriental eram quase uniformemente descritos como brancos, nunca como amarelos[18]". A pesquisa de Michael Keevak Becoming Yellow que os asiáticos foram redesignados como sendo de pele amarela porque "o amarelo se tornou uma designação racial", e que a substituição do branco para amarelo como descrição veio através do discurso científico[19].

Estudos ocidentais de raça nos séculos 18 e 19 desenvolveram o que mais tarde seria denominado racismo científico. Os proeminentes cientistas europeus que escreveram sobre a diferença humana e natural incluíam uma raça eurasiana branca ou ocidental entre um pequeno conjunto de raças humanas e uma superioridade física, intelectual ou estética imputada a essa categoria branca. Essas ideias foram desacreditadas pelos cientistas apenas na segunda metade do século XX após duas guerras mundiais[20].

Em 1758, Carl Nilsson Linnaeus no livro Systema Naturae propôs o que considerava ser categorias taxonômicas naturais da espécie humana. Distinguiu entre Homo sapiens e Homo sapiens europaeus[21] e adicionou mais quatro subdivisões geográficas dos seres humanos: europeus brancos, americanos, vermelhos, asiáticos, amarelos e pretos africanos. Embora Lineu os tenha proposto como classificações objetivas, suas descrições desses grupos incluíam padrões culturais e estereótipos depreciativos racistas e sexistas.

Em 1775, Johann Friedrich Blumenbach (De Generis Humani Varietate Nativa, 1775) descreveu a raça branca como "a cor branca ocupa o primeiro lugar, tal como é a maioria dos europeus. Ele classificou os humanos em cinco raças, que em grande parte corresponderam com as classificações de Linnaeus: caucasiano, mongol e etíope, aos quais foram acrescentados o americano e o malásio. Ele caracterizou o esquema de classificação racial de Metzger como fazendo "duas variedades principais como extremos: o homem branco nativo da Europa, das partes setentrionais da Ásia, da América e da África."; brancos, como os europeus restantes, os mingrélios e os cabardinos". Os europeus do sul, os turcos, os abissínios, os samoiedas e os lapões. Blumenbach é conhecido por argumentar que características físicas como cor da pele, perfil craniano, etc., foram correlacionadas com o caráter e a aptidão do grupo racial. Craniometria e frenologia tentaram fazer que a aparência física correspondesse com categorias raciais. A imparcialidade e as sobrancelhas relativamente altas dos caucasianos eram consideradas expressões físicas aptas de uma mentalidade mais elevada e de um espírito mais generoso. As dobras epicânticas ao redor dos olhos dos mongóis e sua camada epidérmica externa ligeiramente pálida revelavam sua natureza supostamente astuta e literal.

Em um trabalho de 1775, o filósofo alemão Immanuel Kant usou o termo weiß (branco) para se referir a "o branco [raça] do norte da Europa" assim como sua visão sobre os negros:

Os negros da África não possuem, por natureza, nenhum sentimento que se eleve acima do ridículo. O senhor Hume desafia qualquer um a citar um único exemplo em que um Negro tenha mostrado talentos, e afirma: dentre os milhões de pretos que foram deportados de seus países, não obstante muitos deles terem sido postos em liberdade, não se encontrou um único sequer que apresentasse algo grandioso na arte ou na ciência, ou em qualquer outra aptidão; já entre os brancos, constantemente arrojam-se aqueles que, saídos da plebe mais baixa, adquirem no mundo certo prestígio, por força de dons excelentes. Tão essencial é a diferença entre essas duas raças humanas, que parece ser tão grande em relação às capacidades mentais quanto à diferença de cores. A religião do fetiche, tão difundida entre eles, talvez seja uma espécie de idolatria, que se aprofunda tanto no ridículo quanto parece possível à natureza humana. A pluma de um pássaro, o chifre de uma vaca, uma concha, ou qualquer outra coisa ordinária, tão logo seja consagrada por algumas palavras, tornam-se objeto de adoração e invocação nos esconjuros. Os negros são muito vaidosos, mas à sua própria maneira, e tão matraqueadores, que se deve dispersá-los a pauladas[22].

O estudo sobre raça e etnia nos séculos 18 e 19 desenvolveu-se no que mais tarde seria denominado racismo científico. Em sua edição de 1795 De Generis Humani Varietate Nativa (Sobre a Variedade Natural da Humanidade), Johann Friedrich Blumenbach chamou de europeus, os asiáticos que vivem a oeste do Rio Obi, Rio Ganges, do Mar Cáspio e os povos do Norte da África de "caucasianos[23]". Durante o período entre meados do século XIX e meados do século XX, cientistas de raça, incluindo a maioria dos antropólogos físicos, classificaram as populações do mundo em três, quatro ou cinco raças, as quais, dependendo da autoridade consultada, Foram ainda divididas em várias sub-raças. Durante este período, a raça caucasiana, denominando pessoas do Cáucaso do Norte (montanhas do Cáucaso), mas estendendo-se a todos os europeus, figurou como uma dessas raças, e foi incorporada como uma categoria formal de pesquisa científica e, em países como os Estados Unidos, como classificação social.

Segundo Alberto da Costa e Silva, vários estereótipos discriminatórios e racistas sobre o homem negro africano possuem suas origens no tráfico humano interno praticado no continente africano pelos árabes, que já possuíam e manipulavam o argumento etnocêntrico da inferioridade da população negra; álibi muito utilizado a partir do século 10 no mundo islâmico para o desenvolvimento da prática da escravidão: “Foram reforçando-se, um a um, os estereótipos a partir dos quais se construiria toda uma ideologia racista: os pretos eram curtos de inteligência, indolentes, canibais, idólatras e supersticiosos por natureza, só podendo ascender à plena humanidade pelo aprendizado da escravidão”, argumenta o historiador [24].

Este foi o caminho científico que justificou ideologicamente a escravidão dos povos africanos, que se considera atualmente como um crime contra a humanidade pela ONU [25]. Criou o imaginário sobre a pessoa negra como feia, suja, suspeita, criminosa, hipersexualizada e dotada de pouca inteligência ainda presente no imaginário da população brasileira. Como vimos este pensamento tem raízes profundas. A justificativa ideológica construiu mitos, estigmas e estereótipos sobre a pessoa negra. As violentas tentativas de desumanização, zoomorfização, coisificação e animalização dos corpos de mulheres e homens negros na diáspora africana são resultados desta visão e prática que criou o dualismo selvagem versus civilizado. O europeu construiu uma visão limitada e estereotipada sobre o não-europeu, e de uma busca por solidificar fenômenos sociais dinâmicos, um projeto de dominação mundial que ainda hoje tratam da alteridade como apenas mais um objeto do olhar eurocentrado, a norma.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o racismo científico na teoria e na ação foi denunciado formalmente, especialmente na declaração antirracista da UNESCO The Race Question (1950):

Convém distinguir entre a “raça”, fato biológico, e o “mito da raça”. Na realidade, a “raça” é menos um fenômeno biológico do que um mito social. Esse mito tem feito um mal enorme no plano social e moral; ainda há pouco, custou inúmeras vidas e causou sofrimentos incalculáveis. Tem impedido o desenvolvimento normal de milhões de seres humanos e privado a civilização da colaboração efetiva de espíritos criadores. Ninguém deveria prevalecer-se de diferenças biológicas entre grupos étnicos para praticar o ostracismo ou tomar medidas coletivas[26].

O mito da "raça" e a suposta “inferioridade” da população negra africana criou imensos danos humanos e sociais. De acordo com o The Trans-Atlantic Slave Trade Database, o tráfico europeu cristão promoveu a retirada de 12,5 milhões de africanos para o continente americano em 36 mil viagens entre 1525 até 1866 [27]. O tráfico de seres humanos escravizados pelo Oceano Atlântico foi o maior deslocamento forçado de pessoas a longa distância ocorrido na história, sem pedidos de desculpas formais e reparações para os descendentes. Com o desenvolvimentos da genética evolutiva no século 20 demonstrou-se que as diferenças genéticas humanas são pequenas, pois somos 99,9% semelhantes geneticamente[28], portanto não há raças na humanidade.

Apesar deste avanço do conhecimento científico, o senso comum de forma camuflada mas eficaz, especificamente no caso brasileiro, afirmam que existem raças, mantendo a crença na hegemonia do privilégio branco. Declarações explícitas de racismo com a de Hegel, que afirmou não terem os povos africanos apresentado “nenhuma contribuição ao desenvolvimento humano[29]”, e que declara ser a Grécia o “berço da civilização”, executam de forma muito mais segura o serviço renascentista de entronizar o mundo greco-romano como matriz civilizacional da Europa pré-moderna, usurpando numa frase casual todas as contribuições dos povos não europeus para a constituição dessa herança, ao mesmo tempo em que consolida em forma de pensamento ‘histórico’, uma proposição pseudocientífica. A própria imagem metafórica que nos traz a ideia de “berço”, nos propõe reflexões inúmeras a respeito da origem da criança contida no berço, quem construiu o berço, quem foram mãe e pai da criança, entre outras. É Heródoto, o grego chamado de “pai da história” pelos eurocentristas, que nos oferece pistas sobre a origem e os pais da criança:

Estender-me-ei mais no que concerne ao Egito, por encerrar ele mais maravilha do que qualquer outro país; e não existe lugar onde se vejam tantas obras admiráveis, não havendo palavras que possam descrevê-las[30] (...) “Quase todos os nomes dos Deuses passaram do Egito para a Grécia[31] (...) Disseram-me ainda os sacerdotes que Sesóstris realizou a partilha das terras, concedendo a cada Egípcio uma porção igual, com a condição de lhe ser pago todos os anos certo tributo. Se o rio carregava alguma parte do lote de alguém, o prejudicado ia procurar o rei e expor-lhe o acontecido. O soberano enviava agrimensores ao local para determinar a redução sofrida pelo lote, passando o dono a pagar um tributo proporcional à porção restante. Eis, segundo me parece, a origem da geometria, que teria passado desse país para a Grécia (...) A medicina está de tal maneira organizada no Egito, que um médico não cuida senão de uma especialidade, há médicos por toda a parte, uns para a vista, outro para a cabeça, estes para os dentes, aqueles para os males do ventre, outros enfim, para as doenças internas[32].

A Europa é uma civilização tardia. Mesmo as cronologias mais otimistas localizam a chegada dos primeiros grupos humanos classificados como gregos, os micênicos, em cerca de 1400 a.C. quando o Egito, por exemplo, já contava mais de 2 mil anos de Império Unificado[33]. Também já eram seculares os Impérios da Mesopotâmia e do Vale do Indo. Nesse sentido, lembramos que a primeira perspectiva de pensamento humanista a se difundir profundamente na Europa, o cristianismo, é uma perspectiva asiática e recomendo a leitura das 42 Leis de Maat[34], suprassumo do código de ética kemético (Kemet (kṃt), ou terra negra de kem: negro) que, segundo historiadores, era observado desde o faraó até os camponeses. 



No entanto, a influência do Império Egípcio e das demais civilizações do Oriente Próximo, sequer é aventada pelos propagandistas da ideia de que a Grécia seria o “berço da civilização”. Do mesmo modo, o fato de grande parte dos pensadores gregos de relevância nas mais diversas áreas terem estudado no Egito em Per Ankh [35] (Casa da Vida) como Thales de Mileto, o fato de toda a mitologia grega ter sido copiada da egípcia, da matemática, química, arquitetura, medicina egípcia africana terem fornecido as bases para a constituição do pensamento grego, é omitido da história e dos discursos do pensamento europeu contemporâneo, inclusive por seus pensadores mais críticos e supostamente lúcidos, que reproduzem a ideia de que o “berço da civilização” teria gestado a sua “criança”, literalmente do “nada”, sem atentar que, parafraseando Heródoto, “A Grécia é uma dádiva do Egito”. 



Quando Heródoto entre outros pensadores gregos e romanos nos alertam para a negritude do império africano do Egito, chamado de Kemet – Terra Negra – por seu próprio povo[36] podemos começar a entender a escolha feita por renascentistas e iluministas de recorrer à Grécia como base civilizacional da Europa, o que explica o mal estar sentido pelo acadêmico e general francês Volney, que liderava as tropas de Napoleão na invasão do Egito:

Vendo esta cabeça negra em todas as suas características, lembrei-me dessa passagem notável do Heródoto, onde ele diz: Para mim, eu acho que os colchianos são uma colônia dos egípcios porque, como eles, têm a pele negra e cabelos frisados. Em outras palavras, os antigos egípcios eram verdadeiros negros do mesmo tipo que todos os africanos nativos. (…) Mas retornando ao Egito, o fato que ele dá à história oferece muitas reflexões à filosofia (…) Pensar que esta raça de negros, hoje nossos escravos e objeto de todos os desprezos, é mesmo aquela à qual devemos as nossas artes e as nossas ciências e até o uso da palavra (…) Imaginem , finalmente, que está no meio de pessoas que se dizem os maiores amigos da liberdade e da humanidade que se aprovou a escravidão mais bárbara e questionado se os homens negros têm o mesmo tipo de inteligência que os brancos![37]

Por todo o continente africano constituíram-se impérios grandiosos, como os de Kanen-Bornu, Gana, Mali, Songai, Gaza, Daomé, Ndongo, Monomotapa, Hova Merina, e o milenar Reino de Punt mantinha a sua predominância na África Oriental. Fiz uma contagem recente e contabilizei 188 reinos, impérios e cidades-estado do século 33 a.C. até os dias atuais[38]. Com a expansão islâmica, muitos dos reinos do noroeste da África se converteram à nova religião, dando início a um importante período de intercâmbio econômico e cultural. Estão na África as mais antigas universidades em funcionamento como a Universidade de Al- Karueein (859) em Fez no Marrocos e Al-Azhar (970) no Cairo, Egito, mais antigas que a Universidade de Bolonha (1088)[39].



É conveniente e estratégico que seja interditada a discussão da identidade branca e seus privilégios no desenvolvimento econômico, científico e objetivos políticos de controle total. Os meios de comunicação, a religião e a educação tem realizado um trabalho de apagamento do legado científico africano para a humanidade, pois na mente do inimigo, a sua sobrevivência depende da nossa morte mental e física.  A supremacia branca causa sentimentos de inferioridade e auto-aversão para quem não é branco, mas apesar de tudo, resistimos e propomos mudanças nesta ordem. Como diz a filósofa Sueli Carneiro:

Nós somos sobreviventes e somos testemunhas, porta-vozes dos que foram mortos e silenciados. Nós estamos aqui. A elite intelectual deste país, no começo do século 20, só tinha uma preocupação: quanto tempo levaria para esta mancha negra ser extinta. Uns diziam que até 2015 essa mancha negra seria extirpada. Nós somos sobreviventes. Vivemos e viveremos. Nós não só sobrevivemos como agora estamos em ação.[40]

O exercício de desmistificação é fundamental na superação da ideia de que os brancos são protagonistas exclusivos da ciência e tecnologia do mundo, de que o que é europeu é universal e o que é não-europeu é alteridade, de que a Europa é o espaço do pensamento por excelência e que o não-europeu é espaço do antropológico, de que o pensamento europeu surge, se desenvolve, se renova e se expande por geração espontânea, sem colaboração não-europeia e por fim, de que a Europa, tem novamente a missão prometéica de iluminar o mundo - fardo do homem branco - salvando-o da idade do mal-estar, em que ela mesma o colocou. Vamos neutralizar o impacto da supremacia branca em nossas vidas com a autodescolonização das nossas mentes.


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[1] CARLETON, Stevens Coon (1972). The races of Europe. p. 400-401. Esta terceira zona racial se estende da Espanha através do Estreito de Gibraltar até Marrocos, e daí, ao longo das margens do sul do Mediterrâneo, para a Arábia, África Oriental, Mesopotâmia e os planaltos persas; E em todo o Afeganistão para a Índia [...] A zona racial do Mediterrâneo se estende ininterruptamente da Espanha através do Estreito de Gibraltar até Marrocos, e daí para o leste até a Índia [...] Um ramo dele se estende para o sul nos dois lados do Mar Vermelho No sul da Arábia, nas terras altas etíopes e no Chifre da África.
[2] "Em ambos os lados da divisão cronológica entre o moderno e o pré-moderno (onde quer que ele esteja), há um consenso notável de que os primeiros vocabulários da diferença não mencionam raça". NIRENBERG, David (2009). "Was there race before modernity? The example of 'Jewish' blood in late medieval Spain" (PDF). In Eliav-Feldon, Miriam; Isaac, Benjamin H.; Ziegler, Joseph. The Origins of Racism in the West.  Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press. p . 232-264 . Consultado em 16 de abril de 2017.
[3] JABLONSKI, Nina G. Living color: The biological and social meaning of skin color. University of California Press, 2012.p. 106.
[4] DEE, James H. Black Odysseus, White Caesar: When Did" White People" Become" White"? The Classical Journal, v. 99, n. 2, p. 157-167, 2003.
[5] PAINTER, Nell Irvin. The history of  white people. WW Norton & Company, 2010. p.1
[6] DEE, James H. Black Odysseus, White Caesar: When Did" White People" Become" White"? The Classical Journal, v. 99, n. 2, p. 157-167, 2003.
[7] ERDOSY, George (Ed.). The Indo-Aryans of ancient South Asia: language, material culture and ethnicity. Walter de Gruyter, 1995. "enquanto seria fácil assumir a referência à cor da pele, isso iria contra o espírito dos hinos: para poetas védicos, preto sempre significa o mal e qualquer outro significado seria secundário nestes contextos."
[8] O livro das Portas é um texto funerário egípcio antigo que data do Império Novo (1550 a.C.-1070 a.C.). Narra a passagem de uma alma recém-falecida para o próximo mundo, correspondendo à jornada do sol através do submundo durante as horas da noite. A alma precisa passar por uma série de "portões" em diferentes estágios da jornada. Cada portão está associado a uma deusa diferente e exige que o falecido reconheça o caráter particular dessa deidade. O texto implica que algumas pessoas passarão ilesas, mas que outros sofrerão tormentos em um lago de fogo. As quatro raças do mundo eram: um líbio ("Themehu"), um núbio ("Nehesu"), um asiático ("Aamu") e um egípcio ("Reth"). Existe um registro artístico, baseada em um mural do túmulo de Seti I. Estes são retratados em procissão ao entrar no próximo mundo. O texto e as imagens associadas ao Livro de Portões aparecem em muitas tumbas do Novo Reino, incluindo todas as tumbas faraônicas entre Horemheb e Ramsés VII. Eles também aparecem no túmulo de Sennedjem, um trabalhador na vila de Deir el-Medina, a antiga vila de artistas e artesãos que construíram túmulos faraônicos no Novo Reino.  As deusas listadas no Livro das Portas têm títulos diferentes e usam roupas coloridas diferentes, mas são idênticas em todos os outros aspectos, usando uma estrela de cinco pontas acima de suas cabeças. A maioria das deusas são específicas do Livro dos Portões e não aparecem em outros lugares na mitologia egípcia , e, portanto, foi sugerido que o Livro dos Portões se originou apenas como um sistema para determinar o tempo da noite, com a deusa em cada portão sendo uma representação da estrela principal aparecendo durante a hora. Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Book_of_Gates Acesso em 05/05/2017.
[9] Heródoto: Histórias, 4.108.
[11] Heródoto: Histórias, 2.104.2
[12] LESHER, James H. et al. Xenophanes of Colophon: fragments: a text and translation with a commentary. University of Toronto Press, 2001.
[13] https://en.oxforddictionaries.com/definition/white O termo branco tem sido usado para se referir à cor da pele de europeus ou pessoas de origem europeia desde o início do século XVII. Ao contrário de outros rótulos para a cor da pele, como vermelho ou amarelo, o branco não foi geralmente usado de forma depreciativa. Em contextos modernos, existe uma tendência crescente de preferir usar termos que se relacionem com a origem geográfica em vez de cor da pele: daí a preferência atual nos EUA para os afro-americanos em vez do preto e o europeu em vez do branco.
[14] DEE, James H. Black Odysseus, White Caesar: When Did" White People" Become" White"? The Classical Journal, v. 99, n. 2, p. 157-167, 2003.
[15] SILVERBLATT, Irene. Modern Inquisitions: Peru and the colonial origins of the civilized world. Duke University Press, 2004.p. 139.
[16] BONNETT, Alastair. White identities: Historical and international perspectives. Prentice Hall, 2000.
[18] KEEVAK, Michael (2011). Becoming Yellow: A Short History of Racial Thinking. Princeton University Press.
[19] Keevak, Michael (2011). Becoming Yellow: A Short History of Racial Thinking. Princeton University Press. p. 2.
[20] A Questão da Raça (The Race Question) é a primeira das quatro declarações feitas pela UNESCO sobre o que seria uma definição de raça em humanos. Este relatório foi emitido em 18 de julho de 1950 após a Segunda Guerra Mundial marcada pelo racismo nazista. A declaração foi uma tentativa de esclarecer o que é cientificamente conhecido sobre o conceito de raça e também uma condenação ao racismo. Estes documentos foram criticados diversas vezes e versões revisadas foram publicadas em 1951, 1967 e 1978.
[21] GOULD, Stephen Jay. A Falsa Medida do Homem. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 21.
[22] KANT, Immanuel. Observações Sobre o Sentimento do Belo e do Sublime. Campinas, Papirus, 1993, p. 75-76.
[23] BLUMENBACH, Johann Friedrich; BENDYSHE, Thomas. The Anthropological Treatises of Johann Friedrich Blumenbach. Anthropological Society, 1865.
[24] SILVA, Alberto da Costa e. A Manilha e o Libambo: a África e a Escravidão, de 1500 a 1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002, p. 850.
[25] World Conference against Racism, Racial Discrimination, Xenophobia and Related Intolerance. p. 06 http://www.un.org./WCAR/durban.pdf
[26] A Declaração das Raças da UNESCO (18 de julho de 1950). Disponível em: http://www.achegas.net/numero/nove/decla_racas_09.htm Acesso em 06 de abril de 2017.
[27] Dos 12,5 milhões de pessoas que forçadamente vieram pelos navios negreiros, apenas 10,7 milhões chegaram vivas na América.  http://www.slavevoyages.org/assessment/
[28] O Projeto Genoma Humano iniciou em 1990, com iniciativa do National Departaments of Health, dos EUA. Além desta instituição, centenas de laboratórios ao redor do mundo uniram forças para ajudar a sequenciar o genoma humano. Porém, devido ao grande esforço científico internacional, em 14 de Abril de 2013 foi anunciado que o genoma humano (cerca de 3,3 bilhões de pares de nucleotídeos) havia sido 99% mapeado, com 99,9% de precisão. Se escrevêssemos todos os pares de base do genoma humano em letras do tamanho das desse texto, teríamos 1500 volumes de 700 páginas cada em tamanho A4. Todos estes pares de base, menos de 0,2% são diferentes entre um ser humano e outro – é esta pequena diferença que nos torna indivíduos. Mesmo entre pessoas de etnias diferentes, a diferença entre os genes continua a mesma, o que prova que o conceito de raça biológica nos seres humanos, explorado pelos brancos europeus é insustentável. Fonte:  A guide to your genome. Bethesda, MD: National Institute of Health, 2007. Disponível em: https://www.genome.gov/pages/education/allaboutthehumangenomeproject/guidetoyourgenome07_vs2.pdf Acesso em 01 02 2017.

[29] HEGEL, George Willhelm Friedrich. Filosofia da História.  Brasília: Editora da UNB, 1999, p. 88.
[30] HERÓDOTO, 2006, Livro II, Capítulo XXXV.
[31] Id, Livro II , Capítulo L.
[32] Ibidem, Livro II Capítulo CIX.
[33] BURNS, Edward MacNall. História da Civilização Ocidental. Editora Globo: Rio de Janeiro. 1978. p. 58
[34]  Deusa Maat https://en.wikipedia.org/wiki/Maat Acesso em 04 04 2017.
[35] Casa da Vida ou Casa de Vida (em egípcio: Per Ankh) era o nome dado à instituição existente no Antigo Egito (Kemet) dedicada ao ensino no seu nível mais avançado, funcionando igualmente como biblioteca, arquivo e oficina de cópia de manuscritos. As Casas de Vida eram acessíveis apenas aos escribas e aos sacerdotes. Não se conhecem muitos pormenores sobre esta instituição, mas sabe-se que está surgiu na época do Império Antigo. Teria como sede do palácio real, mas funcionaria numa parte do templo ou então no edifício situado dentro da área do templo. Provavelmente cada cidade de dimensão média teria a sua Casa de Vida, conhecendo-se a presença destas instituições em locais como Amarna, Edfu, Mênfis, Bubástis e Abidos. Em Amarna a Casa de Vida era constituída por duas salas principais e os seus anexos, como a casa do diretor da instituição. Entre os ensinamentos ministrados nas Casas de Vida encontravam-se os de medicina, astronomia, matemática, doutrina religiosa e línguas estrangeiras. O conhecimento destas últimas tornou-se importante durante o Império Novo devido ao cosmopolitismo da era, marcada pelo domínio do Egito sobre uma vasta área que ia da Núbia até ao rio Eufrates.
[36] DIOP, Cheik Anta, A Origem dos Antigos Egípcios; in: História Geral da África, África Antiga, vol.II, São Paulo/Paris: Ática/UNESCO, org.: G. Mokhtar, 1983. p. 56.
[37]MACHADO. Carlos. Gênios da Humanidade - Ciência, Tecnologia e Inovação Africana e Afrodescendente. São Paulo: DBA Editora, 2017. p.13.
[39] Top 10 oldest universities in the world: ancient colleges:  https://collegestats.org/2009/12/top-10-oldest-universities-in-the-world-ancient-colleges/  
[40] CARNEIRO, Sueli. Sobrevivente, testemunha, porta-voz: entrevista (maio, 2017). São Paulo: Espaço Revista Cult. Entrevista concedida a Bianca Santana.

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